sábado, 3 de março de 2012

Um problema de atitude Vol. II

De cabeça fria, e depois de ter visto e revisto o jogo, lido e relido comentários em tudo o que é fórum ou web site desportivo, cheguei a uma conclusão acerca do clássico de Sexta-Feira:

O Porto ganhou bem e, os benfiquistas (não todos mas na sua vasta maioria), são os adeptos que menos percebem de futebol do planeta.

Eis porque é que o benfica perdeu o jogo: Porque foi dominado.

Antes de mais tenho de referir o óbvio; O benfica não perdeu por causa do árbitro. Aliás, este jogo veio sendo perdido desde o dia 15 de Fevereiro, quando não conseguiram bater uma equipa que jogou sem guarda redes. A partir daí, a equipa começou a resvalar emocionalmente, perdendo 5 pontos em dois jogos e relançando um campeonato que os seus próprios adeptos já davam como ganho.

Acerca do jogo em si devo dizer que a entrada do Porto em campo surpreendeu-me. Fortes, determinados, sem medo nenhum e totalmente concentrados num objectivo. Foi uma verdadeira entrada "à Campeão" em todos os sentidos. Tanto foi assim que não posso deixar de mencionar alguns indícios positivos que surgiram logo nos primeiros 20 avassaladores minutos de jogo:

- Hulk caí na área (já vi penalty por menos mas concordo com a decisão do árbitro) e, em vez de protestar e ficar caído no chão como é seu hábito, levanta-se imediatamente para marcar o canto. Essa foi uma prova que os jogadores estavam totalmente concentrados em jogar à bola.

- Depois de muitos insultos racistas por parte do estádio inteiro (que duraram os 90 minutos tento por alvo Hulk, Fernando, Djalma e Álvaro, no que foi uma verdadeira desgraça para uma cidade onde metade da população deve ser de origem africana), Hulk, impávido e sereno, sem se mostrar minimamente afectado com os macacos que povoavam as bancadas, marca um dos melhores golos da sua carreira.



Ironia suprema. Cânticos racistas e resposta à medida de Hulk

Esses foram dois momentos que me disseram que algo de especial estava para vir. De facto, tinha dito anteriormente (aqui) que algum dia, apesar da sequência interminável de exibições horrorosas, a equipa haveria de fazer um grande jogo. Não é possível ter o plantel que temos e passar um ano inteiro a falhar e jogar mal. Sempre tive o pressentimento que este momento de brilhantismo poderia acontecer quando menos fosse previsível e no momento mais necessário. Ganhar na Luz depois de um descalabro monumental do adversário nos últimos jogos seria um cenário idílico. E concretizou-se a premonição.

Assim sendo, após os 20 minutos iniciais, onde a equipa marcou e convenceu, o benfica, a jogar em casa com as bancadas cheias reagiu. Pegou mais no jogo e foi criando ocasiões de golo. Ocasiões que aconteceram igualmente para o Porto que, neste momento, jogava como lhe competia. Ou seja, sustendo os ataques rápidos e emocionais benfiquistas e procurando sair pela certa. Assim, Janko falhou um golo isolado frente a Artur devido a uma má recepção e, Moutinho, quase marcava num livre directo.

Apesar das oportunidades bem criadas tanto por Porto e benfica, o golo dos Lusitanos surge de um lance trapalhão e com certa dose de sorte. Ao intervalo 1-1, resultado que se aceita apesar de nunca o benfica ter sido tão superior quanto o foi o Porto na primeira parte deste período.

Ainda acerca do 1º tempo, de referir que quase toda a defesa do Porto foi amarelada (e bem) o que poderia condicionar o desenvolvimento da partida na 2ª parte. Nada disso se verificou. Já não há Fuciles de cabeça pedida no plantel.

No 2º tempo, o benfica entrou por cima, coisa que já era de esperar por ter empatado mesmo em cima da hora. O lance do 2-1 para a equipa da casa nasce no entanto de uma falta completamente mal assinalada sobre Djalma. Estranhamente, nenhum benfiquista fala disso. Felizmente, a equipa Portista não uivou de raiva por causa de uma mera falta a meio campo. Decisões erradas destas aparecem todos os jogos aos pontapés.

Com a vantagem moura no marcador Vitor Pereira mostrou as suas verduras (talvez as tenha mostrado de mais) e retira Rolando por James. O Wonder Kid Colombiado que acabara de realizar trabalho forçado e desnecessário ao serviço da sua Selecção iria ser decisivo. Note-se no entanto que esta troca, que surpreendeu meio mundo, não é coisa nova. Já no último jogo, contra o Feirense, VP tinha feito a mesma e, igualmente, o resultado virou logo a seguir.

O lance do 2-2 surge de um contra ataque brilhante, comandado e finalizado por James que fez um golo de belíssimo efeito. Devo ainda referir a perfeita LOUCURA e DESESPERO PATÉTICO de certa falange benfiquista que considera falta sobre Witsel no momento da recuperação da bola. Realmente, tentar incutir culpas a Proença neste golo é um acto de cobardia incomensurável e de mesquinhez desportiva.



Minuo 1.05 - O ridículo no seu maior expoente, tentar justificar falta neste lance é um insulto ao futebol

Com 2-2 no marcador o Porto começa a crescer. Já dominava antes mesmo de Emerson cometer um erro infantil (parece que o Fucile se mudou para os lados da Luz) numa entrada grosseira, por trás, sobre Hulk. 2º amarelo óbvio e a consequente expulsão. Porém, mais uma vez, o chorilho alfacinha aponta para uma má decisão de Proença no momento do 1º amarelo. Apesar de ser um cartão um pouco puxado, a verdade é que Emerson faz falta por trás sem ter a mais remota hipótese de jogar a bola. Segundo as leis, isso é amarelo e, na primeira parte, jogadores do Porto foram admoestados segundo este critério. De qualquer forma, se a equipa Galaica já tinha dado sinais de crescimento, depois de ter ficado com mais um nem campo, nunca mais perdeu o controlo do jogo.

Menção ainda para um lance com Cardozo na área encarnada. Canto marcado, Cardozo cabeceia de forma trapalhona contra os seus próprios braços que estavam abertos tal qual o Cristo Rei, impedindo, por ventura, que ela fosse sobrar na área e criar um lance de perigo. Propositado ou não, a lei é simples. Braços em posição não natural que corte uma bola é Penalti e consequente amarelo. Desta forma, o Porto já poderia estar a vencer 2-3 e com mais um jogador em campo.

Braços completamente abetos e dupla carambola. Um penalti do tamanho do mundo

A acção do golo da vitória resulta de uma falta dura sobre James. O mesmo James marca o livre de forma irrepreensível (este rapaz tem uns pés de Ouro) e Maicon, que parte de posição de fora de jogo, aproveita uma saída totalmente despropositada de Artur para por uma cereja em cima do bolo que foi este clássico e dar a vitória aos Campeões Nacionais.

Aqui, obviamente, os adeptos do benfica tem razão em se sentir frustrados, Porém, o que não podem dizer, é que perderam por causa deste lance. Se o jogo decorresse sem erros nos lances capitais, o resultado seria o mesmo (na condição que Hulk convertesse o penalti). Aliás, nesta mesma jogada existe um erro do fiscal de linha e 3 erros da equipa benfiquista.

- Erro de quem faz uma falta feia
- Erro dos centrais que perdem para Maicon e até Otamendi
- Erro de Artur que leva um frango "à Roberto"

Obviamente, para um clube que tem adeptos totalmente abstraídos do mundo e que pensam, sinceramente, ter origem divina e, por isso, mais direitos do que os outros, a única razão da derrota foi Proença. Daqui a 20 anos, tais crianças choronas e más perdedoras, ainda teremos de aturar histórias sobre este momento e, claro, sempre esquecendo de mencionar o outro erro crasso que prejudicou directamente o FCPorto.

Pois por mim, escreveu-se direito por letras tortas.

Não resisto no entanto a demonstrar porque é que, na minha opinião, o benfica saiu, mais uma vez, derrotado no seu próprio reduto pela equipa Portuense.

Antes de mais é evidente que a partir do momento em que tiveram pontos de vantagem, já eram campeões virtuais. Ninguém para o benfica, ganham os jogos todos, Rodrigo vai para o Real por 50 milhões e Gaitan para o Manchester por 40. Depois... bem, depois, vem a realidade. Aparece o relaxamento, os jogos complicados, o desgaste da Liga dos Campeões, o azar e, claro, "os árbitros".

Jorge Jesus optou por culpar Proença por erros seus. Jesus, um verdadeiro benfiquista, é perito em usar o fogo da massa associativa para galvanizar a equipa. No entanto, apesar de se notar uma resposta imediata, este não é sempre o melhor método para levar de vencidas equipas que já estão calejadas nestas andanças. Não nos esqueçamos que ainda o ano passado, esta equipa do Porto fez a folha a mais que uma equipa destas. Equipas super atacantes, viradas para a frente e que praticam quase sempre um futebol agradável. Sevilha e Villareal tiveram o mesmo tratamento.

Jorge Jesus. Um treinador com coração a mais e cabeça a menos

É inegável que Jesus põe a equipa benfiquista a jogar um futebol "bonito". No entanto, quantos jogos ganhou a verdadeiras grandes equipas? Partida após partida a história repete-se. Jesus joga com emoção e coração mas isso, contra grandes equipas, raramente resulta. O jogo de ontem foi o perfeito exemplo. Mesmo quando se apanhou a ganhar, o seu pedantismo e arrogância fez com que mandasse a equipa continuar a atacar sem tomar precauções. Pois bem, de um lance de contra ataque resultou o 2-2 e a passagem efectiva do Porto na liderança do campeonato.

Em vez de culpar Proença e o auxiliar, Jesus deveria aprender a interpretar os jogos e a respeitar mais os adversários. Já perdeu muitos jogos da mesma forma. Além do mais, ficar-lhe-ia melhor referir o manifesto azar nas lesões que condicionaram a equipa do que se focar nos erros alheios.

Quanto ao Porto, nada está ganho e nada está esquecido. Esta ainda é a equipa que, jogo após jogo, me feriu os olhos com o seu mau futebol. Sei bem que as coisas mudam rapidamente, especialmente no que toca ao mental e moral dos jogadores e, sabendo isso, espero que este tenha sido um ponto de viragem. Contudo, uma coisa sei:

Esta equipa já sofreu tanto, levou tanta boca e tanta porrada que formou uma parede emocional que pode valer um título. Depois de todas as convulsões desta época, levar 4 em Manchester, ganhar jogos para a Liga nos últimos minutos sob enorme pressão ou ganhar em plena Luz, tudo tem sido encarado com o máximo rigor e frieza.

Quem irá ser campeão, Porto, Braga ou Benfica? Ninguém sabe. Estão todos em pé de igualdade e com calendários nada fáceis. Porém, a equipa mais séria e mais concentrada terá mais hipóteses.
Braga. Provavelmente a equipa que melhor joga em Portugal e um sério candidato ao título

Felizmente, Porto e Braga parecem-me mais preparadas. O Porto porque foi obrigado a fazer-se Homem para sobreviver e o Braga porque o deixaram tranquilo até agora. Hoje está grande. MUITO GRANDE.

O benfica, este, apesar de ter todas as hipóteses, já não depende só de si e, provavelmente, irá passar metade do tempo que falta a culpar o árbitro e em revoluções na imprensa. Iremos ver muita tinta sobre o fora de jogo de Maicon, sobre a falta fantasma sobre Witsel etc. e nem uma palavra acerca dos verdadeiros motivos pelo qual continuam a claudicar nos momentos chave.

E ainda bem que o circo lisbonense continua!

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