terça-feira, 1 de outubro de 2013

A grande ilusão!


Este é essencialmente o meu mural de lamentos quando, no futebol, as coisas vão mal. E hoje resolvi despertar este anónimo monstro dormente.

Não considero que as coisas tenham andado bem há cerca de 2 anos para cá mas, as vitórias na liga, mesmo que através do futebol mais aborrecido da história do clube, adormeceram este espaço. Contudo, este início de temporada veio recordar-me de alguns dos meus argumentos passados e dar-me a certeza de que, os dois últimos títulos da equipa foram mais demérito do benfica do que mérito de um Porto em retrocesso no seu modelo de gestão do futebol.

Hoje assisti a mais uma partida deste FCPorto. Desta feita, contra um Atlético de Madrid que alguns insistem em transformar, por conveniência, em grande equipa, o resultado foi o espectável e o desaguar lógico de todas as exibições até ao presente. Na verdade, bastou uma equipa liderada por um grande treinador vir ao Dragão jogar com calma e inteligência para fazer gato sapato de um clube que, dentro de campo, se comporta como um bando de crianças em folia reagindo ferozmente ao toque para intervalo.

Como todos os jogos até ao presente, o Porto começa por cima. Começa porque corre como um doido. Dão tudo por tudo, talvez pressionados pelos adeptos, pelas palavras de um treinador ou pela própria consciência que, certamente, lhes indica a insuficiência dos desempenhos até então. Porém, após esta correria inicial (vista contra Estoril, Vitória e Atlético por ex.), quando as pernas deixam de responder, começamos a ver a verdadeira face deste FCP 2013-2014. É cara de alguém que tenta fazer o melhor possível com as armas que tem. É, no fundo, uma atitude de desespero característica de quem, de forma suicida, tenta o milagre da salvação.

Milagre este que contra o Atlético até apareceu. Marcamos um golo de bola parada porque, com ela jogada, só nos limitamos a mandar bolas em profundidade que os jogadores desperdiçavam em maus domínios, passes errados e decisões completamente inversas ao que se exigia. Porém, este golo caído do céu que os comentadores da TVI consideravam justo pela maior dinâmica da equipa mais do que pela qualidade do jogo, não me convenceu na altura. De facto já tinha visto este filme antes.

Assim, ao passar a meia hora, quando o pulmão deu o abafo, as verdadeiras cores da equipa começaram a transparecer. Uma enorme incapacidade de jogar à bola, mantê-la na posse, progredir em profundidade e não em modo Andebol de lado para lado e entender-se com o seu colega do lado revelou-se mais uma vez. Também mais uma vez a pobreza angustiante da qualidade técnica da equipa, que não se demarca de um Gil Vicente quanto mais de uma equipa da Champions, manifestou-se como uma das principais causas da completa ausência de execução do futebol da equipa.

Rapidamente o Atlético perdeu o respeito inicial e, após o golo, o equilíbrio na posse de bola e controlo dos acontecimentos foi restabelecido. A partir deste momento nunca mais o Porto foi senhor do seu destino. Na verdade parece-me até que nunca o fomos. Os Colchoneros fizeram o que quiseram quando quiseram e nem a pontinha de sorte, que aparece a quem merece, deixou de aparecer especialmente nos seus golos.

 A 2ª parte nem merece comentário porque tem sido a mesma coisa todos os jogos. Um descalabro completo e o desmantelamento total de qualquer vestígio de táctica ou plano. Qualquer equipa facilmente nota que este Porto é corrida enquanto há força e nada mais.


Perdemos um jogo. Poderia dizer que está tudo em aberto, que foi sorte ou azar. Porém, a minha reflexão, vai muito para além disso. Vai até ao facto de que estou convencido que o modelo de gestão do clube, baseado no comprar barato e vender caro, ou começa a estar desactualizado ou está a ser minado por dentro através de más decisões que podem ou não ter a ver com interesses financeiros individuais.

Admito desde já que tenho uma ideia certa do porquê de não jogarmos nada e de estarmos, mais uma vez, no limite do desespero com a lamentável qualidade de jogo que o clube apresenta. Para mim, não tenho dúvidas, o problema reside na falta de qualidade da equipa. É assim tão simples e, tudo o resto, são invenções ou causas secundárias.

Muitos dizem que o porto tem de vender para equilibrar as contas. Tudo bem! O meu problema está no entanto nas compras que, ao contrário (e vou prová-lo a seguir) do que dizem, tem sido uma hecatombe de falhanços apenas interrompidas por uma ou outra situação em que se adquire valores inegáveis que todos reconheciam.


Entretanto deixamos um treinador como Vítor Pereira atacar uma época com Kleber e Walter. No ano seguinte vendem Hulk e temos que olhar para o banco e ver Sebá, Djalma e Kelvin. A pobreza ofensiva da equipa é, na verdade, aterradora e, os resultados e exibições, pautados pela incapacidade de ser manifestamente melhor do que qualquer outra equipa, são um testemunho da decadência da política contratual do clube.

Façamos um pequeno exercício para avaliar a tão afamada política de contratações do FCPorto. Assim, desde a época de 2011-2012, posterior ao glorioso ano de Vilas Boas que conseguiu ter a melhor dupla atacante da história do clube em Falcao e Hulk entraram:

2011

Marc Janko
Lucho González
Eliaquim Mangala
Steven Defour
Alex Sandro
Danilo
Kléber
Rafael Bracali
Kevlin
Djalma
Juan Iturbe
 
2012

Victor García
 Luis Morgillo
 Liedson
 Mauro Caballero
 Jr Marat
 Izmailov
 Hector Quiñones
 Victor Luís
 Sebá
 Jackson Martínez
 Igor Stefanovic
 Fabiano

2013

Joris Kayembe
Ditu
Marko Pavlovski
Sinan Bolat
Juan Quintero
Ghilas
Ricardo Tavares
Tiago Rodrigues
Licá
Josué
Carlos Eduardo
Héctor Herrera
Diego Reyes Ricardo

São 35 jogadores. Destes 35, porém, apenas alguns são presença assídua na 1ª equipa. Todos os outros foram contratações para a B, para emprestar ou incógnitas por revelar.


Assim, a não ser Lucho, Mangala, Alex Sandro, Danilo, Jackson, Fabiano e Quintero, tudo o resto foi lixo, dinheiro mal gasto, experiências falhadas e mistérios por confirmar como Ghilas, Herrera e Reyes (estes últimos 2 caríssimos e para posições não deficitárias o que agrava ainda mais a minha posição sobre as prioridades e intenções da SAD).

Se Jackson faz o que pode para dar conta do recado com os jogadores que o rodeiam, já "esquecer" as saídas de James, Moutinho e Hulk tentando colar jogadores de 2ª linha nos seus lugares nunca irá funcionar.

Somemos o dinheiro destes negócios estranhos, os salários e comissões e, de certeza, encontraremos a razão da famosa pergunta "O que fazem ao dinheiro". Resposta: Dão-nos aos empresários.

Como é fácil de observar, os últimos 3 períodos de transferência tem sido marcantes na degradação da qualidade da 1ª equipa. Além disso é agora evidente que equipas do Leste Europeu, carregadas de dinheiro como de uvas as encostas do Douro, roubaram o lugar ao FCPorto. Esta janela de transferências foi o perfeito exemplo disso ao perdermos dois extremos de grande qualidade para clubes sem qualquer expressão. A reacção da SAD a estas perdas foi deixar o plantel carente de desequilibradores nas alas. Posições que, para o 433 do clube, são simplesmente as mais importantes.

Estamos condenados a apostar em jogadores cada vez mais novos, cada vez mais incertos, cada vez mais fracos e de risco e preço maiores.


O facto de começarmos esta época com vários jogadores totalmente vulgares em Licá, Varela, Josué e Defour, e com excedentários que não estão cá a fazer nada como Herrera, Reyes é sintomática.


Se a isso somarmos um treinador que não demonstra pinta de lógica nas suas decisões, o caos está instalado.

É deveras exasperante ver um tipo que tem um plantel carregado de médios e sem extremos jogar em 433 em vez de um 442. Também inexplicável o facto de ele insistir em deixar o único talento puramente ofensivo da equipa no banco(Quintero)quando a equipa precisa de jogar e colocá-lo em campo, nos fins dos jogos, quando é preciso defender. Isso, caros amigos, é coisa de doido varrido. Se acha que Quintero não pode jogar porque "não está maduro", "não defende", "não percebe a táctica" então digo-lhe que se vá mudar para o Paços. Se ele quer 11 bois de corrida com pés quadrados em vez de um rapaz que tem mais futebol na biqueira do pé esquerdo do que todo o resto plantel junto, está no clube errado. Em todas as equipas tem de existir a magia. Se ele não reconhece isso que vá treinar para a regional pois, de anti futebol, já tive a minha dose na era do Vítor Pereira.

Este treinador, contudo, apenas potencia os problemas que existem a nível interno que passam, conforme demonstrado por uma degradação progressiva do plantel. Se o ano passado tínhamos 10 bons jogadores mais um inútil em Varela, este ano temos apenas 8. Os outros 3 que vão jogando não são dignos de serem nossos titulares. Quando se junta tanta mediocridade na ofensiva da equipa é fácil perceber o porquê de termos problemas e jogarmos tão mal.


Uma palavra ao meu ódio de estimação Vítor Pereira que tantas vezes crucifiquei aqui. Apesar de não estar perdoado nem ter saudades nenhumas dele, vou rectificar uma ideia que tinha dele.

Assim, costumava dizer que ele era o treinador com PIOR futebol que me lembrava desde Octávio Machado. Hoje digo apenas que era o treinador com futebol MENOS ATRACTIVO de SEMPRE do clube. Contudo não era o pior pois, este, consciente das suas limitações e plantel, preocupava-se em defender e chutar para o Jackson.


A táctica acabou por resultar pois as defesas é que dão títulos. Não esqueço porém o papel de Jorge Jesus nestes triunfos porque, se o slb fosse um clube normal e com dirigentes minimamente competentes, o benfica correria hoje para ser tri campeão.

Isso acabou contudo por não acontecer por suicídio e falhanço da liderança benfiquista. Graças a tal barbaridade que há de ficar na história, o "modelo" do FCPorto ganhou 2 anos de vida. 2 anos que, ao invés de servirem para rectificar processos, apenas foram usados na ampliação do problema.

Tempos negros se adivinham. A ilusão de sucesso que o benfica permitiu ao Porto nos últimos dois anos não passa disso mesmo. Uma miragem de que o modelo ainda funciona. Porém, por razões internas de incompetência ou externas pelo surgimento de novos rivais no mercado (provavelmente um pouco de ambos), a ilusão de que tudo vai bem e que se sair um entra outro já se está rapidamente a desvanecer.

E não. Não é indo buscando Josués, Ricardos, Carlos Eduardos, Licás, Tiago Rodrigues, Kelvins, Quiñones etc que o nível se irá manter. Isso é sim os primeiros degraus para uma era de mediocridade e entrada em falência de resultados e financeira.

Entrar para novas épocas, de forma consistente, com equipa PIOR que o ano anterior não é modelo. Não é futuro e não é aceitável.

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